segunda-feira, 6 de maio de 2013

Veja bem meu bem

Mas quando seus olhos me fitam a partir da retina mais cabal

[penso...]

Sou eu mesmo ou criei um outro qualquer?
Está cego ou não me enxergo?
Acredita no que está à sua frente ou deixei de ser o que acredito?
O que sou afinal?

Acho que sou saudade
de quando criança não ter consciência de ser
principalmente ser humano.

(José Avelino)

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Vem aqui

Averso ao que vem
 
em branco - sem cor - só corpo - só capa - sem avesso
 
e esqueço nesse sorriso vindouro que sou corpo
 
desejando a mesma casca
 
 
(José Avelino)
 

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

A paz, o cais













Passa
paz não fica
pacifica
lá fora,
                                         longe de mim
Antes de vir
adentrar no pacífico
oceano
meu mar amar

     de ondas...
                    que vão...
em vão...
               e afogam

Sem deixar passado
Sem ter passado
Sem você.

(José Avelino)

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Deixe

desmonto-me
desde cedo
desde sempre
des
      mon
              tá
                  vel

d
es    concertado
EX
propriado

Meu concerto é conceito vanguardista

(José Avelino)

terça-feira, 12 de junho de 2012

Arado




éramos quase
completude
(des)esperança  
éramos
presente
na frente
momentâneo passaredo
como tudo
contudo
éramos
tudo
em mãos


enfim
no fim
éramos água
entre dedos
gotejada
ao chão


éramos
chão
terra 
arada
aerada
à espera 
sementes?
não somos
seríamos
éramos

(José Avelino)

 


quarta-feira, 23 de maio de 2012

Sabe?

Estou falando do improvável, da possibilidade, de algo que a existência dependerá de fatores, atores e conjunturas. Falo do inconcreto, da expectativa, do desejo pela satisfação, da falta, pela falta e por faltar, sempre.

saudade
sem
sentido
sentirei
sempre
se
seu
sorriso
soar
solto

Por aí

Sem
saber
se
sou
sua
saudade
semelhante

(José Avelino)




sexta-feira, 30 de março de 2012

Alegoria para Helena


Uma língua despindo as palavras açoitou a boca e fez dos lábios opostos refúgio protegido por mordidas salientes, selantes, salivantes...

Ela sonhou mais uma vez.
E desejou a vida como desejava a língua que sonhara: Despudorada, sem receio de cativar o que lhe interessava.
Mas era sonho, repetitivo e inquietante.
Acordava em um corpo alheio, desatenta ao chão que costumava pisar.
Esquecera do seu nome, nome dado e batizado pela tradição católica apostólica romana.
Acordar tornou-se um ato de regressão. Fardo sustentado todo santo dia, todo dia de santo.
Mas se ela fosse ela? E se o futuro guardasse surpresas avassaladoras?
Abria a geladeira sem esperança de banquete. Suco da noite anterior, bebia o passado com gosto, lambuzava-se disso.
Ela?
Mulher independente, dona do próprio nariz, cabelos, pernas.
Saía para o trabalho com sensações comuns, preocupações comuns, normalizada, normatizada, numa alegoria descomunal.
Cativante.
Sentia que poderia ser mais, mas ser é algo tão difícil, vai além da redoma, ficaria desprotegida.
Melhor sonhar, assimilar o papel e ser intérprete de si.
É.
Mas a língua insiste.
E a vida também.

(José Avelino)